A história do Brasil foi construída sobre silêncios, apagamentos e violências sistemáticas contra os povos africanos e seus descendentes. Durante séculos, o racismo estruturou as instituições, definiu quem teria acesso à terra, ao trabalho, à cidadania, e mesmo ao direito de existir. Ainda hoje, os efeitos dessa história se fazem sentir nas favelas, nos presídios, nos hospitais psiquiátricos, nos indicadores sociais – e nas ausências.
A cartilha “Reparações: uma ideia cujo tempo já chegou!”, escrita por Diva Moreira, intelectual e ativista do movimento negro, é uma convocação urgente para encarar essa realidade de frente. Ela nos convida a romper com o mito da democracia racial e compreender que o Brasil moderno foi fundado não apesar da escravidão, mas a partir dela.
Justiça não é passado: é presente e futuro
Falar de reparações é falar de justiça. Mas não apenas uma justiça simbólica – trata-se de justiça legal, restaurativa, social, fiscal e ambiental. Trata-se de reconhecer os direitos historicamente negados ao povo negro e de reconstruir o país sobre bases verdadeiramente democráticas.
A proposta de reparações vai além de indenizações financeiras. Ela inclui políticas de ação afirmativa, reconhecimento e valorização da história e da cultura africana e afro-brasileira, reforma tributária justa, enfrentamento do racismo ambiental, e sobretudo, uma nova economia política inspirada no quilombismo, no ecofeminismo negro e na tradição dos Orixás.
Uma nova narrativa para um novo Brasil
A cartilha denuncia as mentiras que sustentaram a exclusão: a ideia da escravidão “suave”, a inferiorização da cultura negra, a criminalização da pobreza e a desumanização sistemática da população afrodescendente. Mas ela também aponta caminhos, nomes, lutas e esperanças.
Das irmandades do Rosário às ONGs contemporâneas, do samba ao teatro negro, das lutas nas ruas às disputas institucionais, o protagonismo negro tem sido o verdadeiro motor da resistência democrática no país.
Reparar é reconstruir
Como nos lembra a cartilha, não se trata apenas de olhar para o passado, mas de transformar o presente e reimaginar o futuro. Reparar é curar. Reparar é reconhecer. Reparar é reconstruir.
Reparações não são um favor. São uma dívida histórica e um passo essencial para qualquer projeto de país justo, sustentável e verdadeiramente democrático.

“Acreditar que a reparação é inviável ou fora de tempo é ignorar essas chagas ainda abertas e limitar o horizonte de construção de uma sociedade diferente.”
Diva Moreira


